Dia de Muitas Coisas….
Está convencionado que amanhã será o Dia Mundial do Teatro, mas amanhã será apenas o dia em que se comemorava o Teatro. Amanhã será isso sim, como hoje e ontem, um dia de muitas coisas.
O Teatro é uma Arte e, como todas as Artes, precisa de artífices antes de tudo. E para acontecer, precisa de um tempo, de um Espaço, de um Lugar.
E este definitivamente não é o tempo, nem o espaço, nem o Lugar.
O Teatro precisa de um Lugar e o lugar está fechado.
O Teatro precisa do Público e o público está (ou devia estar) em Casa.
O Teatro precisa de Artífices e a tragédia paralisou-os.
Que resta então aos profissionais dest’Arte e aos Públicos. Os do teatro e todos os outros?
Uns chorar os mortos. Outros espantarem-se por ainda estarem vivos, graças ao ventilador que, qual Senhora de Fátima, decidiu pousar ali… outros e outras por sentirem Saudades dos seus; ao telefone “a vida quotidiana no tempo da primeira pandemia do seculo XXI” sem disso se darem conta; reinventar o quotidiano entre a mesa o medo o gato a notícia o cão a mulher o grito o instagram para o mundo e sobreviver. E depois há os Outros. os que continuam a trabalhar para que possamos sobreviver no meio de todos os atropelos. E muitos, muitos, Outros…
Hoje é o dia em que se devia comemorar o Teatro enquanto arte social. Mas é apenas o Dia de Muitas Coisas. E são tantas as que podemos e devemos ousar experimentar, enquanto artistas, enquanto cidadãos e enquanto povo! Estamos obrigados a fazê-las. O Mundo não será mais o mesmo. E vamos passar a olhar-nos de outro modo! E isso pode ser fantástico.
E podemos fazê-lo em qualquer Lugar. Só ou acompanhados, em silêncio ou em voz alta, na varanda ou a fazer limpezas, a descascar batatas…
Proponho uma receita. Quem tiver livros em Casa aproveite e ouse limpá-los. Quem não tiver siga à risca as instruções e na próxima oportunidade compra ou rouba (com a obrigação de o ler, qual Genet) um. Vamos começar: agarra o Livro, passa-lhe com um pano de lã. Bate com ele na mão para sair o pó. Abre-o e experimenta ler. Não a frase, nem o parágrafo, nem período. PALAVRA A PALAVRA. Parando a cada UMA. Experimente debruçar-se sobre ela, pensar o que quer dizer. O que significa. Que valor tem. Recorde como tem sido usada nos últimos tempos. Se entender que há discrepância entre o significado e o seu uso, fixe-se nela, limpe-a muito bem limpa e UTILIZE-A em VOZ Alta, como acha que deve ser usada. E oiça se a está a dizer com a qualidade que ELA merece. Esforce-se um pouco. E quando estiver bem, nunca mais esqueça como se verbaliza. E se todos nos exercitarmos no valor da PALAVRA, descobriremos um mundo novo, onde caberá o Teatro, mas sobretudo a VIDA. ganhamos a capacidade de nos surpreender connosco e com os Outros. Todos os Livros têm palavras dentro que se repetem, porque o Homem busca a sua humanidade desde o Princípio. Amor, paz, solidão, solidariedade, dignidade, trabalho, produtividade, outro, morte, respeito, crença, amizade, fronteira, diversidade, cidade, país, europa, diferença, igualdade, clima, terra. E muitas outras também simples que aprenderá a limpar e a tornar transparentes e cristalinas.
Amanhã é o Dia de Todas as COISAS!
Estou perfeitamente convicto que é pelo Respeito a Palavras como as que atrás foram escritas, que a DST Group, (Mecenas Institucional da CTB) na pessoa do seu Administrador e meu querido Amigo, engenheiro José Teixeira, decidiu atribuir à Companhia, nesta data, um apoio financeiro suplementar (ao anualmente concedido), equivalente a três salários. As 14 pessoas que regularmente integram a CTB manifestam aqui, nesta data de Todas as Coisas, o seu profundo agradecimento, reconhecendo que mais uma vez a DST Group, assume perante a Cidade e o País, uma atitude de Mecenas Cultural, comprometida e cidadã, de profundo alcance cultural, social e político que urge aplaudir. Para nós CTB, a convicção que a nossa responsabilidade aumenta e nos obriga a uma ainda maior exigência interna, sobre a qualidade artística.
Que o Dia de Amanhã seja Melhor para Todos! Celebremos a Vida que o Teatro vem depois!
Companhia de Teatro de Braga
Rui Madeira
A Cultura e a Economia em tempo de Covid-19.
As frentes abertas pelo demónio, covid-19, que exigem responsabilidade dos empresários são inúmeras.
O dstgroup entende que depende dos seus “soldados” e desde a primeira hora, ainda não existia ainda um único infetado em Portugal, elaborou o seu plano de contingência que tem sido permanentemente atualizado.
Não nos passaria pela cabeça que teríamos 364 trabalhadores em teletrabalho e, com a implementação de ferramentas de gestão, e a monotorização diária, numa espécie de Kaizen às 8,59 horas, conseguíssemos trabalhar.
Independentemente dos recursos colocados à nossa indústria pelo Governo da República e pela banca estamos em condições de garantir os salários dos nossos trabalhadores, os compromissos com fornecedores e parceiros sem exaurir o Estado.
Somos quase 1800 trabalhadores e com o tal demónio a espernear, em fevereiro admitimos 66 trabalhadores e no presente mês de março, até hoje, 49 novos trabalhadores. Hoje aprovamos a admissão de mais três trabalhadores.
Não, não despedimos ninguém, nem os que estão à experiência serão dispensados a não ser por razões de desfasamento com a nossa psique e de mau desempenho. Até hoje isso ainda não aconteceu a nenhum.
Neste tempo devastador e imprevisível que atravessamos, assumimos um compromisso com os nossos trabalhadores: queremos chegar ao final da batalha com todos os “soldados” de pé. Como lhes escrevemos: se cairmos, e Deus nos ajude para que isso não aconteça, cairemos todos.
Se neste tsunami perderemos dinheiro? Sim perderemos uma parte, mas ficaremos com a restante parte e outra, a principal, aumentada: a confiança dos nossos trabalhadores, dos nossos fornecedores e dos nossos parceiros e isso é valor que não tem preço e nos permitirá surfar as ondas do futuro.
Com isto resolvido precisávamos de dar mais um sinal à Economia.
Nada resistirá, com todos os esforços levados ao seu limite, com todos os recursos utilizados, sem cultura e sem os profissionais da cultura, sem aqueles que, com a sua produção artística, nos permitem ser mais competitivos.
Um país sem cultura não sobrevive.
Assim, e não podendo acorrer a tudo, independentemente de outros apoios sociais do grupo, em curso, decidimos assegurar os salários dos 14 trabalhadores da Companhia de Teatro de Braga nos próximos três meses, fora do subsídio plurianual e apoio que lhe atribuímos há quase quarenta anos.
Tornamos público este comunicado na esperança que outros encontrem uma entidade de produção de cultura para apoiar neste momento, para todos desesperado, mas muito mais desesperado para os que vão perder o que não têm.
Pela nossa salvação coletiva: apoiem a cultura.
Por José Teixeira,
presidente do Conselho de Administração do dstgroup